terça-feira, março 25, 2008

Desvendando "Eu amo um monitor"

Conversando com meus amigos, reparei que a vasta maioria não entendeu o que eu quis dizer com a música "Eu amo um monitor", e por que raios ela está junto de "Sua canção". Está certo que este compositor que vos fala não costuma ser muito sutil em suas letras e às vezes escreve sobre coisas realmente bobas, vide por exemplo os versos de "Acabou a batata" ("Acabou a batata / A coisa vai fedê"). É certo também que eu sou um nerd completo e assumido. Mas nem por isso, cacilda, eu iria fazer uma declaração de amor gratuita a peças de computador!


Isto não é um cachimbo
René Magritte — "La trahison des images" (A traição das imagens)

O motivo de as duas músicas estarem juntas é que, além de compartilharem a harmonia (porque as compus uma junto com a outra), elas falam sobre o mesmo tema: gostar de alguém que está distante. Em "Sua canção" isso está óbvio e não necessita de muitas explicações, exceto que a tal canção que a pessoa faz é uma metáfora para as coisas em geral que são feitas no dia-a-dia. Enquanto que "Sua canção" fala sobre o desejo de fazer parte da rotina de outra pessoa que está distante (e a distância aí pode ser tanto física quanto emocional), "Eu amo um monitor" aborda uma classe moderna de relacionamentos que só existem pela internet e telefone. A atual tecnologia de comunicação nos permite ter a ilusão de que estamos com a pessoa que gostamos na nossa frente. Mas, tal qual no quadro "La trahison des images" de René Magritte, o que vemos à nossa frente não é a pessoa, mas sim uma representação (algumas vezes grotesca) dela. Você acha que ama uma pessoa, mas está amando um monitor, no fim das contas!

Uma questão que fica em aberto é se o amor que o narrador da letra sente é correspondido ou não. "Sua canção" dá meio a entender que não, já que não há nenhuma referência explícita à existência de um relacionamento de qualquer natureza entre as duas pessoas. Já em "Eu amo um monitor" a gente mais ou menos subentende que sim, pois a música fala justamente sobre conexões, de cabos e de pessoas. Mas a situação não fica clara em nenhuma das duas músicas. Isto eu vou deixar para vocês decidirem :D



Diagrama I Ching do dia: Ken (52), com transição para Sheng (46).
"Montanhas nós somos, e como montanhas nós ficaremos"

3 comentários:

Thaís disse...

Nossa, esse quadro é muito psicanalítico! ><
Sobre as músicas e/ou relacionamentos...

A questão é que, apesar de o meio ser virtual, as pessoas ainda são reais, os sentimentos são reais, então no final das contas, eu amo a representação que faço do que capto no monitor! Nossa, fui longe! xD
Mas de qualquer maneira, sempre amamos a representação que fazemos das pessoas, porque não podemos apreendê-las perfeitamente, estando longe ou perto. Só precisamos ter cuidado para que essas representações não se petrifiquem e nos impeçam de enriquecer a representação das pessoas que amamos! =)

Borges disse...

É, só que você pode não pode abraçar a representação virtual :P É isso.

Eu conheci este quadro pelo magnífico livro "Desvendando os Quadrinhos", de Scott McCloud. Hoje pesquisei na internet e acabei vendo mais obras do René Magritte. Todas muito fodas. Eu costumo gostar mesmo de pinturas surrealistas :)

Thaís disse...

Ah, isso é verdade! xD Só tava questionando/explicando a veracidade do sentimento!^^

E eu também gosto de pinturas surralistas, embora conheça muito poucas.