segunda-feira, junho 19, 2006

Gigante pela própria natureza

Cara, eu gosto muito do hino nacional. De verdade. Acho até que é o mais bonito do mundo. Sua melodia intrincada, seus temas vibrantes, etc. E até uma das músicas que mais gosto de tocar no violão.

Mas, convenhamos, este deve ser o hino mais longo do mundo. E isto causa muitos transtornos, principalmente em eventos internacionais. Me lembro que no último pan-americano (na República Dominicana) os organizadores só tinham uma versão slow motion do hino tocado num tecladinho bem vagabundo (quem ouviu sabe o que estou falando). Daí que só dava tempo pra tocar a introdução do hino, aquela introdução megalomaníaca que dá voltas e reviravoltas e que, sozinha, já deve ser maior que 80% dos hinos por aí. Na versão slow motion, a introdução demorava uns 2 minutos, mais ou menos.

Mesmo desconsiderando este caso extremo, que foi o pan-americano de Santo Domingo (quem se lembra da bandeira do Brasil que usaram por lá?), podemos citar outros casos em que só houve tempo pra introdução. Na fórmula 1, por exemplo. Nada mais frustrante do que, após a raridade de o Rubinho vencer uma corrida, a gente ouvir só a maldita introdução do hino nacional. O engraçado é que há tempo para tocar o hino inteiro da Alemanha e da Itália, mas o brasileiro só dá pra introdução.

Alíás, alguém já viu algum outro hino com introdução? Acho que é exclusividade brasileira. Não é de se estranhar, portanto, que os gringos façam questão de tocar a introdução e, por vezes, pular partes mais importantes. É que eles acham que a introdução já é o hino. Não, antes que o leitor pense o contrário, eu não tenho nada contra esta introdução do hino nacional. Mas, caramba, já que o hino é tão grande, porque não orientar os organizadores dos eventos a pular logo a introdução e ir direto ao assunto? Por exemplo, nesta copa do mundo eu vi uma bizarra versão editada do hino (uma remixagem digna de um DJ alemão) que do "Desafia o nosso peito a própria morte" já pulava direto para o fim. Mas a introdução eles não cortaram. Não era melhor cortar a p*$%@ da introdução e tocar o hino até o fim?

Quando digo até o fim, é até o fim da primeira parte. Sim, porque nosso hino não se contenta em ser apenas grande — ele é grande e ainda tem duas partes. Daí que, nas eliminatórias da copa do mundo deste ano, tivemos um jogo, dentro do Brasil, logicamente, em que o hino foi executado na íntegra. Introdução, parte 1, parte 2 ("Deitado eternamente em berço esplêndido", aquela parte que muita gente se embanana na hora de cantar) e o gran finale. Confesso que pra mim foi constrangedor, afinal os pobres jogadores do outro time não mereciam esperar em pé por tanto tempo.

Pensando bem, o Brasil poderia se aproveitar do hino nacional como truque sujo pra vencer os jogos. Assim como Bolívia, Peru, Equador e outros países andinos que se utilizam da altitude das suas cidades para prejudicar os adversários, o Brasil poderia tocar o hino completo (quem sabe, em slow motion e com um bis no final) antes de cada partida, causando os seguintes efeitos negativos nos jogadores adversários:

- Esfriamento muscular (cai por terra todo aquecimento antes do jogo);
- Enrijecimento das articulações (por ficarem de pé por muito tempo);
- Perda de concentração;
- Náuseas, alucinações e, em casos extremos, a morte por tédio.