quarta-feira, junho 25, 2008

O que é melhor: ter muitos, muitos colegas ou poucos, mas bons amigos?

O post vai ser grande. Preciso dizer tudo o que penso a este respeito. Eu ia fazer uma música sobre isso, mas não quero contaminar geral com o meu desapontamento.

Se alguém me fizesse a pergunta do título há uns 10 anos, eu responderia sem titubear: ter poucos, mas bons amigos, lógico! Esta pergunta é quase um fator determinante pra definir se uma pessoa é introvertida ou extrovertida no sentido Jungiano da coisa. Eu, como introvertido arquetípico, preferia muito mais a companhia de pessoas que eu pudesse confiar, compartilhar os meus segredos e problemas, do que me sentir cercado por uma multidão de semi-desconhecidos.

Hoje, também sem pestanejar, com amargor na garganta e peso nos olhos, respondo o contrário.

Mas o que é um amigo? Eu já defini amigo como sendo aquele com quem já dividi um segredo, mas esta definição é um pouco ampla demais e não vai servir pra este post. Amigo aqui vai ser aquela pessoa com quem você tem uma grande empatia e confiança, alguém a quem você pode se mostrar como é, com as suas fragilidades, seus problemas e loucuras. É alguém com quem você pode contar nas horas difíceis. É alguém que você faz questão de ver sempre, pois um amigo é um tesouro, como disse a raposa daquele famoso livro de cabeceira das misses.

Já um colega é alguém que divide algum tipo de situação e experiência com você. Existe colega de trabalho, de escola, de futebol, de academia, de bar. Aqui vou me referir mais ao colega de diversão, que é aquela pessoa com quem você freqüentemente se diverte junto, mas não necessariamente faz verdadeira questão de ver ou tem conversas abaixo do nível da superfície.

Pois bem. Naquela época, eu tinha poucos, mas bons amigos. Gente com quem eu convivia todo dia, na escola, depois na faculdade. O tempo passou, eu fui me formando nos cursos e a convivência diária deixou de existir. De súbito, eu passei a "disputar" meus amigos com outras coisas: trabalho, namoradas, esposas, filhos. Aquelas pessoas com quem eu convivia quase que diariamente se tornaram cada vez mais inacessíveis e complicadas de se ver.

De fato, em algum momento entre os meus 20 e 25, eu perdi os meus amigos. Hoje em dia, considero um bom amigo aquele com quem eu posso contar em pelo menos 50% das vezes.

Esta é a ordem natural das coisas? Talvez seja. Mas não deixo de pensar que, para ser amigo, antes de tudo é preciso querer ser amigo. Eu trabalho, e isto nunca foi um empecilho para que eu visse meus amigos quando quis. Eu tive uma namorada por 8 anos e ela morava em outra cidade. Eu só a via de 15 em 15 dias. Mesmo assim, quando eu ia pra Campos, fazia questão de ver também os meus amigos. Dava um jeito, saía com ela e com meus amigos junto. A questão dos filhos é complicada para eu julgar, já que não tenho nenhum. Mas acredito que a mesma lógica se aplica.

Hoje em dia é uma raridade eu conseguir sair com um amigo. Pois, além de tudo isto, ironicamente, a minha introversão atraiu gente introvertida, que não gosta de sair de casa. Eu mesmo fui assim por muito tempo. Acho que as pessoas ainda pensam que eu prefiro ficar em casa, mas no momento estou doido pra sair e quase não arrumo companhia. Boa parte da culpa disto é minha, reconheço. Mas não é disto que estou falando aqui.

Em 2006, eu quis dar uma festa em Campos para comemorar a conclusão do meu mestrado. Chamei 15 dos meus amigos mais chegados para a minha casa, numa reunião informal. Sabe quantos vieram à festa? Só o Panda, que tinha compromisso mas ainda assim deu uma passadinha rápida pra me ver. Nenhum outro amigo meu fez questão de vir à festa. Todos tinham coisas mais importantes para fazer.

No meu último aniversário, chamei vários amigos e colegas para a minha casa em Niterói. Só 1/4 deles veio, bem abaixo do que eu estava esperando.

Se por um lado é ruim quando os amigos não vêm, há também um problema em se juntar muitos amigos num só lugar: quando você está sozinho com um amigo, pode se abrir de verdade. Quando três amigos se encontram, ainda rola isso. Mas quando 4 ou mais se juntam, todos entram em "modo colega": é impossível estabelecer uma cumplicidade genuína com tanta gente diferente ao mesmo tempo. Ora bolas, se é para ter colegas, era muito melhor que eu tivesse um porrilhão deles. Assim, pelo menos eu sempre teria companhia para sair quando eu quisesse.

É o que acontece com o meu irmão. Na festa de aniversário dele (que rolou neste fim de semana), havia nada menos do que 200 pessoas. Eu estive lá, e foi muito divertido.

Mas não estou a fim de dar festa de aniversário para um punhado de colegas. Nem para amigos que não se esforçam para me ver. Por isso, já me decidi: este ano não vai ter festa nenhuma no meu aniversário.

E vou tratar de arrumar mais colegas de agora em diante.

6 comentários:

Julio César Mulatinho disse...

Quando eu estava na ETFC tinha todos os meus amigos da turma - amigos mesmo, de verdade, de compartilhar segredos, alegrias e tristezas. Achava que ia durar para sempre, não queria me separar deles mesmo depois que o curso terminasse, mas cada um foi para um lado e hoje em dia nosso contato resume-se a um "e aí, cara?" ocasional via orkut.

Aos poucos também virei um cara muito - muito, muito - introvertido, só vejo seres humanos quando estou trabalhando, o resto do tempo não gosto nem de atender telefone.

Lila Yuki disse...

Profundo.
Na verdade, isso me inspira a escrever um post.

Pablo Saraiva disse...

Nash, você sabe que eu gosto de vc pra caramba.

E sempre que você tá aqui em Campos a gente tá junto.

Quando vou ao Rio a gente também faz alguma coisa.

No último fds que vc veio realmente não tive como sair com vc e peço desculpas.

Não tô dizendo que foi por isso que vc fez esse post, mas acho que influenciei.

Eu acho que é importante ter bons amigos, aqueles com quem vc pode contar sempre. Mas acho MUITO importante conhecer muitas pessoas também.

Luna disse...

Eu sinto falta de ter colegas. Muitas vezes deixo de sair pq não tenho companhia.

Arlene Mulatinho disse...

Amizade pode até existir mas é raro demais.

Na maioria das vezes são apenas interesses em comum num dado momento de tempo. Depois adeus. Até a família, parentes que é pra sempre as pessoas se encontram só em casamento ou velório. Não leve a sério as amizades pois senão haverá decepção.

A pessoa pode ter muita afinidade contigo mas é igual no ponto de ônibus te conta a vita te pede conselho e tchau.

Dê atenção aos seus filhos, pais e esposa/marido. No mais é oi pra cá, oi pra lá. É triste mas é real.

Borges disse...

Estou mesmo chegando a esta conclusão.