"Apesar da minha roupa, também sou índio" - Djavan, "Cara de índio"
Quando digo que sou índio, todos se riem. Afinal eu sou de um branco europeu difícil de encontrar nesta região do país. Então, para provar, eu mostro a parte de trás de meus dentes incisivos. Neles é possível observar pequenas calosidades próximas das raízes, um pequeno detalhe que atesta a minha ascendência indígena. São os chamados "dentes de índio".
Minha trisavó, uma índia de uma tribo da região de Campos, foi pega a laço pelo meu trisavô, que queria constituir uma família. Não foi esta a primeira nem a última violência do invasor português com os nativos de Pindorama. Muitas das pessoas a quem conto esta história me revelam ter na família um caso semelhante, o que mostra que o rapto seguido de casamento era um crime muito comum por aqui.
Mesmo oprimida pelo marido, a danada da nativa conseguiu se vingar, lançando um feitiço que iria afetar a toda a descendência de seu capataz: ninguém de seu sangue, dali por diante, poderia ser chamado de branco. Seriam todos caboclos, mestiços de pele, cabelo e cultura. E mesmo o mais branco dentre os caboclos filhos de seu marido iriam carregar consigo pelo menos duas coisas da índia: os dentes e a alma. E assim se fez.
É por esta razão que, apesar da cor, dos pêlos, do nariz, dos olhos e da roupa, eu também sou índio!
Este blog está para acabar
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